Novo estudo da USP em Ribeirão preto mostra que o canabidiol em combinação com antibiótico pode ser eficaz contra infecções hospitalares. Foram demonstrados resultados promissores e podem levar a alternativas para tratamentos de infecções.
Antes de tudo: o que você vai ver nesse artigo?
- Quem fez o estudo?
- O que o estudo descobriu?
- O que dizem os pesquisadores da USP?
- O que é o canabidiol?
- Quais os benefícios reais desse estudo?
Quem conduziu o estudo?
O estudo foi conduzido com apoio das Faculdades de Ciências Farmacêuticas (FCFRP) e de Medicina (FMRP), ambas da USP de Ribeirão Preto. Também participaram a UNESP em Araraquara e o Instituto Ramón y Cajal de Investigación Sanitaria, da Espanha.
O que o estudo descobriu?
O estudo demonstrou o efeito antibacteriano sinérgico do canabidiol (CBD) quando combinado com o polimixina B, antibiótico já utilizado nos hospitais para o tratamento de infecções hospitalares graves. Os resultados preliminares foram obtidos em testes laboratoriais e publicados no artigo Potential cannabidiol (CBD) repurposing as antibacterial and promising therapy of CBD plus polymyxin B (PB) against PB-resistant gram-negative bacilli em abril, na revista Scientific Reports.
O que é antibiótico Polimixia B?
Em resumo: A polimixina B, vendida sob a marca Poly-Rx, entre outros, é um antibiótico usado para tratar:
- meningite
- pneumonia
- sepse
- infecções do trato urinário
O que dizem os pesquisadores da USP?
“Nossos achados demonstraram que a combinação do canabidiol ultrapuro com o antibiótico polimixina B teve atividade antibacteriana contra superbactérias como a Klebsiella pneumoniae, extremamente resistente a antibióticos, e que pode causar infecções graves em pessoas hospitalizadas como pneumonia, infecções no sangue e meningite. De modo surpreendente, os resultados foram promissores contra bactérias que também eram resistentes à polimixina B, ou seja, para aquelas em que o antibiótico sozinho não tem atividade”, explica Leonardo Neves de Andrade, professor da FCFRP, biomédico e coordenador do estudo.
“Utilizamos diferentes metodologias que contribuíram para o entendimento de conceitos microbiológicos sobre a atividade antibacteriana da combinação do CBD com a polimixina B. Sugerimos que os canabinoides sejam mais explorados pela ciência por meio de novas formulações farmacêuticas, ensaios pré-clínicos e testes clínicos em seres humanos, visando ao reposicionamento do canabidiol como novo antibiótico”, ressalta Andrade.
O que é o canabidiol?
Em poucas palavras o Canabidiol ou CBD é uma substância da planta cannabis sativa ou maconha como é conhecida popularmente, que não possui efeito psicoativo, muitas vezes extraído do cânhamo ou como falamos, também chamada de cannabis sativa.
“O canabidiol já tem sido associado a múltiplas e potenciais atividades biológicas, especialmente ansiolítica, antipsicótica, anti-inflamatória, analgésica e neuroprotetora em casos de epilepsia, transtornos de ansiedade, distúrbios do sono, Parkinson e esquizofrenia”, explica José Alexandre Crippa, professor da FMRP, médico psiquiatra e um dos autores do estudo.
Quais os benefícios reais desse estudo?
A resistência bacteriana à ação dos antibióticos atualmente disponíveis tem como resultado o aumento da dificuldade em tratar doenças infecciosas já conhecidas, causando um prolongamento da infecção, incapacidade e até morte.
“Considerando as implicações sanitárias, sociais e econômicas da crescente resistência bacteriana, a OMS chama a atenção para a pesquisa, descoberta e desenvolvimento de novos antibióticos contra patógenos multidroga-resistentes ou extensivamente droga-resistentes”, explica Fernando Bellissimo Rodrigues, professor da FMRP, médico infectologista e um dos autores do estudo.
Ainda de acordo com o especialista, a comunidade científica investiga diversas substâncias, incluindo produtos naturais. “Existem infecções hospitalares causadas por bactérias extremamente resistentes a praticamente todas as opções terapêuticas disponíveis no mercado. Dessa forma, o canabidiol surge como uma promessa, pois já tem uso licenciado e já demonstrou ser seguro para outras indicações clínicas. Os próximos passos envolvem os testes pré-clínicos e clínicos futuros em seres humanos, para avaliar se os resultados obtidos in vitro serão confirmados”, explica Bellissimo Rodrigues.
O artigo na íntegra foi publicado no Jornal da USP.