Como funciona o tratamento com Canabidiol (CBD)
Entenda como funciona um tratamento com Cannabis medicinal, quais são seus principais elementos (Canabidiol CBD e THC), as patologias podem ser beneficiadas pelo medicamento e como ele pode ser tomado.
O que é Cannabis medicinal?
Para termos um bom ponto de partida, é muito importante esclarecer o que é a Cannabis medicinal e qual é o seu papel em um tratamento.
Embora seja usada para fins medicinais há quase 5 mil anos, apenas há poucas décadas cientistas e médicos vêm dedicando um crescente número de estudos mais aprofundados sobre o potencial terapêutico dos extratos de Cannabis.
O uso desses extratos tem se mostrado revolucionário por nos oferecer acesso aos seus fitocanabinoides, ou seja, canabinoides de origem vegetal.
Mas afinal, o que são canabinóides e por que eles são tão importantes? Para responder a essa pergunta, antes é preciso entender o que é e como funciona nosso sistema endocanabinoide.
Sabemos que temos aí várias palavras diferentes e conceitos que podem ser novos, então vamos com calma!
Assim como nosso sistema nervoso, sanguíneo, hormonal e vários outros, o sistema endocanabinóide, ou SEC, é crucial para o funcionamento saudável do nosso corpo, sendo o responsável pela regulação de diversos processos fisiológicos e cognitivos como nossa imunidade, humor, memória, sono, apetite e até mesmo nosso olfato.
Para cumprir esse importantíssimo papel de regular o equilíbrio (ou homeostase) do nosso corpo, o sistema endocanabinoide usa neurotransmissores chamados endocanabinoides que repassam as informações necessárias para que cada órgão cumpra sua devida função.
Em outras palavras, os endocanabinoides são os “mensageiros” responsáveis pela boa comunicação entre o sistema endocanabinoide e todo o resto do nosso corpo para garantir que nosso organismo opere de forma equilibrada.
A Cannabis medicinal pode entrar em cena justamente quando alguma patologia prejudica essa comunicação, causando desequilíbrios no organismo que podem ser combatidos com a introdução de fitocanabinoides (mensageiros externos) para re-orientar e reforçar a atuação dos dos nossos endocanabinoides (mensageiros internos).
Existem inúmeros compostos na Cannabis medicinal capazes de cumprir essa função, mas os dois principais são o canabidiol CBD e o tetrahidrocanabinol (THC).
Distinção entre CBD e THC
Assim como qualquer planta, a Cannabis é composta por inúmeros elementos, cada um com funções e usos específicos. No entanto, dois dos seus princípios ativos são os mais conhecidos e relevantes para nós: o canabidiol, ou CBD, e o tetrahidrocanabinol, ou THC.
Tanto o canabidiol CBD quanto o THC possuem a mesma fórmula molecular, C21OH30O2, mas estruturas moleculares levemente distintas, o que faz com que sua atuação no cérebro seja bastante diferente devido às conexões formadas: em geral, de uma forma bem simplificada, enquanto o CBD gera um estado de relaxamento e tranquilidade, o THC pode ser estimulante.
Apesar dessa diferença, ambos possuem propriedades medicinais similares, atuando como potentes analgésicos e antiinflamatórios. Ou seja, dependendo da patologia em questão, o tratamento pode incluir extratos isolados de canabidiol CBD, praticamente sem traços de THC, ou fórmulas mistas de canabidiol CBD e THC, com as variações de medicamento ou proporção sendo controladas pelos médicos de acordo com a necessidade de cada paciente.
Por ter propriedades psicoativas, o THC pode ser responsável pela sensação euforizante, ou o “barato”, causado pela Cannabis. Nos medicamentos, no entanto, o THC e o CBD são usados de forma complementar para evitar qualquer desequilíbrio e garantir que o paciente tenha acesso somente às características terapêuticas dos compostos.
Efeitos esperados do tratamento com Cannabis medicinal
Os tratamentos com Cannabis medicinal costumam atuar em duas frentes principais nos pacientes: reduzindo o limiar de dor, graças às suas propriedades analgésicas, assim como também o grau de inflamação no organismo, o que ajuda a melhor regular diversas de suas funções.
Como desdobramento dessa diminuição de dores e inflamações, o paciente costuma ter uma drástica redução de estresse geral, que permite uma melhor regulação do humor e do sono, trazendo significativa melhora na qualidade de vida.
Diferente dos medicamentos tradicionais, que na maioria das vezes atuam sobre sintomas e processos específicos, os tratamentos com Cannabis medicinal costumam ser eficientes justamente por abordarem o bem estar do indivíduo de forma integral: ao atuar no sistema responsável pelo equilíbrio das funções orgânicas, o sistema endocanabinóide, o corpo como um todo passa a operar de forma mais harmônica.
Ou seja, graças à drástica redução do desconforto causado pelas dores e inflamações de diversas patologias, os extratos de Cannabis permitem que os pacientes possam voltar a ter um dia-a-dia mais tranquilo e melhores noites de sono, o que, de fato, não traz uma cura para elas, mas garante melhores condições e disposição para enfrentá-las.
Possíveis efeitos adversos da Cannabis medicinal
Por ser um medicamento fitoterápico, os efeitos dos extratos de Cannabis tendem a ser sutis e cumulativos no organismo. No entanto, determinados pacientes podem experienciar efeitos adversos no início do tratamento por diversos motivos.
Os efeitos adversos mais comuns são sonolência, causada pelas propriedades relaxantes do medicamento, e problemas de intestino, que na verdade estão mais ligados ao formato de óleo usado na maioria das formulações consumidas no Brasil do que à Cannabis em si.
Alguns indivíduos também podem apresentar sintomas como dores de cabeça, tonturas ou até excesso de apetite. No entanto, esses efeitos são associados apenas àqueles que estão realizando tratamentos com fórmulas contendo THC.
No entanto, todos esses sintomas tendem a desaparecer com o avanço do tratamento, e caso haja persistência dos desconfortos, a questão costuma ser facilmente resolvida com uma recalibragem da dose administrada.
Como tomar a medicação?
Como o formato mais comum das formulações disponíveis no Brasil é de óleos, o uso dos medicamentos à base de Cannabis costuma ser feito na forma de gotas que podem ser pingadas sob a língua do paciente. Os profissionais médicos sugerem tentar segurar as gotas sob a língua pelo máximo possível de tempo, de um a dois minutos, para que a absorção seja sublingual, que é mais eficiente, e não intestinal, com a qual parte do efeito do medicamento pode se diluir.
Devido à possibilidade de provocar certa sonolência durante os primeiros dias, os médicos costumam sugerir que a administração do remédio aconteça sempre à noite, o que também garantirá um sono de melhor qualidade.
O tratamento costuma ser iniciado com uma dosagem pequena, que é incrementada após a primeira semana até encontrar um ponto ideal dependendo da resposta da cada paciente, processo conhecido como “titulação de dose”.
Apesar de quase insípido para a maioria das pessoas, alguns indivíduos podem não se acostumar ao sabor do medicamento. Essa questão pode ser facilmente resolvida com a técnica de misturar as gotas de cada dose com algum alimento oleoso que o paciente possa gostar como queijos, iogurtes ou mesmo frutas, como abacate e pinha.
Cuidados em um tratamento com Cannabis medicinal
Um ponto de cuidado importante são as possíveis interações medicamentosas. É crucial informar ao profissional responsável pelo tratamento todos os medicamentos que o paciente costuma utilizar, seja de forma pontual ou contínua, para garantir que não haja conflitos ou sobreposições de suas funções.
Por serem tratamentos de longo prazo, outro ponto de atenção está na necessidade de uma consistência e regularidade na administração do medicamento. Ou seja, é crucial que o paciente não se esqueça de tomar a medicação e faça o planejamento necessário para que o tratamento não seja interrompido.
Apesar de não proporcionar sintomas de síndrome de retirada, como certas medicações tradicionais, a interrupção dos tratamentos com extratos de Cannabis é muito prejudicial por desestruturar seu efeito cumulativo no organismo. Estudos sugerem que o corpo de um indivíduo pode levar até três meses após uma interrupção de poucas semanas para atingir o estado de equilíbrio alcançado com um tratamento até então.
Popularização vs Falta de informação
Apesar da crescente popularidade do tratamento com Cannabis medicinal para inúmeras patologias, ainda é comum que a maioria das pessoas tenham inúmeras dúvidas sobre seu uso, especialmente quando um paciente está no início de sua pesquisa sobre a Cannabis como uma alternativa para sua condição, muitas vezes já exausto após anos de tratamento com outros medicamentos ou terapias.
Uma das principais preocupações é a segurança dos tratamentos com Cannabis medicinal, já que muitas vezes o medicamento será usado em pessoas mais velhas e fragilizadas, ou mesmo em crianças.
Como sempre, a informação é nossa maior aliada. Neste artigo, tentaremos cobrir todas as principais dúvidas sobre a segurança do tratamento com Cannabis Medicinal.
Cannabis medicinal dá barato?
A resposta mais simples e direta é não. No entanto, para responder essa pergunta de forma mais profunda, é preciso identificar e compreender os componentes dos medicamentos à base de Cannabis medicinal, e o quanto eles podem ser diferentes um do outro.
Em geral, os medicamentos são produzidos à base de CBD, THC ou uma combinação de ambos.
O canabidiol CBD tem propriedades antiinflamatórias, ansiolíticas e anticonvulsivantes, enquanto o THC tem um perfil analgésico e relaxante muscular. No entanto, cada um age no corpo de forma diferente, e seu uso isolado ou combinado será avaliado pelo médico de acordo com as características, os sintomas e a patologia de cada paciente.
O canabidiol CBD não é capaz de produzir qualquer efeito desse tipo no organismo por não ter efeitos psicoativos. Já o THC pode chegar a promover certos efeitos euforizantes quando utilizado em altíssimas concentrações. No entanto, como qualquer outro medicamento psicoativo, os efeitos do THC dependem de sua dose. Caso o paciente siga as orientações médicas e use sempre as doses adequadas, o resultado terapêutico será sempre atingido muito antes da manifestação de efeitos colaterais indesejados.
É possível ter overdose letal? Canabidiol CBD é seguro?
Não! Embora muito comum, essa dúvida não tem qualquer fundamento concreto. Estudos apontam que toda substância tem sim um potencial letal no organismo humano — incluindo até elementos cotidianos e necessários ao corpo, como a água.
No entanto, enquanto medicamentos como a codeína, ou mesmo substâncias recreativas como o álcool, podem ser letais em quantidades de 10 a 20 vezes maiores do que suas doses consideradas terapêuticas (ou seja, quando causam alguma analgesia ao corpo), a Cannabis só seria letal caso fosse ingerida uma quantidade 1.000 vezes maior do que sua dose terapêutica.
Colocando isso em números concretos, para causar a morte de uma pessoa, seriam necessários 7 kg de Cannabis administrados de forma intravenosa, ou ainda 29kg ingeridos in natura. Por isso mesmo, até hoje, nunca foi registrada nenhuma morte devido ao uso de Cannabis, muito menos em suas versões medicamentosas. Ainda que um paciente tome um frasco inteiro de CBD ou THC, ele apenas ficará extremamente sonolento e cairá no sono, apagando até o efeito passar.
Cannabis medicinal vicia?
A Cannabis medicinal não causa qualquer tipo de dependência ao corpo, pois usa apenas versões concentradas de seus princípios ativos, em doses muito controladas.
É importante deixar claro que a Cannabis, quando usada de forma recreativa, pode de fato causar vício. Ainda assim, segundo estudos, a porcentagem de indivíduos que desenvolvem esse tipo de dependência é de apenas 9%, muito menor do que a de outras substâncias recreativas como o tabaco (32%) ou do álcool (15%).
No entanto, também é importante lembrar que esses números se referem apenas à forma inalada e recreativa da Cannabis, que sequer é permitida no Brasil. Quando usada de forma medicinal, mais comumente em óleos, a Cannabis não tem nenhum potencial para desenvolver dependência em seus pacientes, diferente de outros medicamentos analgésicos, como os opióides, que têm alto potencial adictivo.
Possíveis efeitos adversos
No início do tratamento, alguns dos efeitos colaterais podem ser sentidos até que seja encontrada a dosagem ideal.
O efeito adverso mais comum é a sonolência. Outros mais incomuns incluem tontura, dor de cabeça, alteração do hábito intestinal, do apetite e da frequência cardíaca.
No entanto, além de serem muito mais brandos do que os efeitos colaterais causados por medicamentos tradicionais usados para o tratamento das mesmas patologias, grande parte desses efeitos pode ser facilmente eliminada com ajustes na dosagem, o que torna crucial o acompanhamento constante de um médico.
Interações medicamentosas, o canabidiol CBD é seguro?
Muitas vezes, os pacientes que buscam tratamentos com Cannabis medicinal já estão usando um ou diversos outros medicamentos em paralelo, o que traz a preocupação de possíveis interações medicamentosas.
O acompanhamento de um profissional experiente será muito importante nesse caso, uma vez que certos medicamentos podem exigir uma dosagem menor ou maior de gotas por dia para chegar ao efeito adequado — isso acontece porque, em diversos casos, o equilíbrio dos neurotransmissores proporcionado pelos fitocanabinoides potencializa a eficiência de outros medicamentos.
Apenas em raríssimos casos, a Cannabis medicinal pode ser contraindicada. Ainda assim, muitas vezes podem ser usadas variações do medicamento, como por exemplo, por mais que uma composição mista de canabidiol CBD e THC possa não ser indicada para um paciente psiquiátrico, ele ainda poderá ter os efeitos analgésicos e antiinflamatórios proporcionados por um medicamento com CBD isolado.
A importância de um acompanhamento especializado
Para garantir a eficácia do tratamento com cannabis medicinal, é importante contar com um acompanhamento especializado de médicos experientes. Com o Medicina In você encontra médicos com experiência em cannabis e realizam um acompanhamento personalizado para proporcionar qualidade de vida e bem-estar. Faça a sua consulta on-line e tire todas as suas dúvidas sobre o tratamento, benefícios e como cuidar da sua saúde.